sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

a verdade da mentira

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querendo um fim de semana prolongado informou os RH: “segunda-feira não posso vir, tenho um funeral”.
e teve. o carro enfiou-se desordenadamente pela ravina que ia dar à praia.

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domingo, 16 de novembro de 2014

fora da escravidão ou

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fora da escravidão
ou
em fuga sem dó maior
eu vivo livre
(não gosto de caixas
, por isso serei cremada)
é aí mesmo
à deriva
em cima da paleta
que me entrego
- boca de mel
- tons de pastel

enquanto não chega a metamorfose
enquanto não escrevo na tela
enquanto não escravo na sela
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sábado, 11 de outubro de 2014

desejo/\adejo

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há muito a detectar as falhas, de uma vida que deveria ter sido perfeita, tal como um tricôt para bebé, começou a desmanchar a esperança com a garra de uma lya luft

muitos nós. sim, demasiados nós - pensou

e iniciou o enovelar com fervor de crente
dobava o emaranhado da vida

mas já era tarde, a luz apagara-se
ainda tacteou mas, na escuridão, perdera o fio das ideias 

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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

enClave de Sol

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hoje, lembrei-me das cegonhas, apesar de não ser primavera
costumava fotografá-las lá para o sul, no alto dos pedestais alheios
imponentes, elegantes e vestidas num preto e branco a rigor
em criança diziam-me que eu tinha vindo de Paris, numa cegonha
e eu, acreditava –era inocente, acreditava em tudo, até no Pai Natal
por muitos, a cegonha foi sempre considerada uma ave de bom augúrio e em alguns países ainda prevalece a crença de que uma criança concebida com amor era sempre trazida, com toda a perícia por esta ave
hoje, hoje não é primavera, mas brindo aos avós, aos pais, aos tios, aos primos e a todos os rebentos que hão de vir

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

entre a insónia e a partida



remeto-me ao silêncio
do toque
no teu corpo

(quero colocar a cabeça no teu peito
e saber que vou dormir)


 mudo de canal
, recolho-te na minha visão
e fico Princesa protegida
sobre a água
- és o meu Keiser, meu Herren

o meu Golden ring reflecte a luz da manhã
chegou a hora da partida
os sinos pararam de tocar
, e
não sabendo se te ia ficar
, abraço-te
como se nos partíssemos a meio

____________________________________________e apenas íamos

sábado, 20 de setembro de 2014

silêncios

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quero esquecer os silêncios das folhas de inverno, em tarde de Outono dos dias perfeitos.
deveria ser proibido haver falhas em dias perfeitos - pensou ela
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quando o silêncio interrompeu o barulho, as folhas voaram.
em cada passo voava uma folha, com se de um livro fosse arrancada.
os barcos, inertes, não acreditavam no que viam e a água também ficou calada.
três mil quinhentos e noventa se sete passos, desde que o silêncio interrompeu o barulho.
o silêncio não pensa na falta de tempo.
o silêncio nunca pensa na falta de tempo, tem todos os livros que quer para arrancar as folhas, claro.
alheio, o sol bate nas costas.
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o corpo inchado, caminha.
ainda tentou agarrar o instante daquela noite de inverno, naquele sitio.
mas o instante voou.
agora só havia o silêncio.
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- agora acabo de gostar menos de ti, disse ele

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

incongruências

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que seria de mim sem a laurindinha?
bom, quando ela e o marido decidiram mudar de vida, tentando a sorte com a abertura de um café, optei por levar a roupa para a lavandaria, onde era engomada ao peso. para as limpezas optara por uma empregada à qual nunca dei a chave de casa.
o negócio do café correu mal e a laurindinha voltou para a sua patroa preferida, dizia ela, tendo sido aceite com agrado.
é certo que já faz parte da mobília mas, em dias como o de hoje, estando ambas em casa, continuo a sentir-me uma estrangeira ameaçada com uma brigada-de-fronteira escorraçando-me de um território que julgo meu, com o frenesim daquele aparelho que sorve todas as partículas do chão.
chego a temer que me expulse de casa e fico em dúvida se é até com algum gozo que me faz saltitar de divisão para divisão.

no final, além de lhe pagar, ainda digo até amanhã.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

antes do dia seguinte

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às primeiras horas da manhã, acordava com o galo da vizinha (todo-o-dia como o cotidiano do Chico).
pôs termo a esse despertador seguindo a receita do cunhado.
a sobremesa foi break opera pie.

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