quarta-feira, 27 de maio de 2009

a visita

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Sempre impecavelmente aprumada, outrora andaria numa azáfama, entre a loja, que ficava na frente da casa, e os afazeres domésticos.

Recebia-nos com alegria, mas não nos dava prioridade, primeiro estava o negócio.

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Tudo estava irreconhecível. Agora tínhamos que ultrapassar várias rotundas até chegar à aldeia. Foi bom a Ró ter ido comigo. Nas entrelinhas dos seus profundos suspiros de “ai-meu-deus”, dava-me instruções: vira aqui, vira ali - caso contrário ter-me-ia perdido.

O jardim da frente da casa também estava encurtado, por causa da estrada. Ainda bem que sobrara espaço para manter as roseiras.

Recuei no tempo.

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Às vezes conseguimos recuar no tempo e ficarmos inocentes. Conseguimos imaginar que tinha sido bom ali. Noutra altura teria conseguido recuar até àquela tarde de férias de verão quente.

A igreja ainda era visível dali.

Sentamo-nos todos à roda de uma mesa no jardim. Havida limonada fresca, com água do poço. O som das rolas chegavam até nós, pena que o das galinhas também.

Os pátios tinham sido regados com água para tornar tudo mais fresco, Depois do fausto almoço, e sem vontade para lancharmos, havia quem já se atrevesse a elaborar a ementa do jantar. Depois de algumas sugestões eliminadas conseguiu-se reduzir o menu para uma salada russa (que iria ser servida bem fria) com uns filetes de pescada fresca. Para a sobremesa haveria pão-de-ló e melão fresco.

Fui muito feliz naquela casa.

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Recuei no tempo e senti pesar.

Abrimos o portão, torneamos a casa.

A empregada tratava da roupa e disse – ela hoje está melhorzinha, já desceu mas subiu de novo.

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Quando me viu, no seu ar canónico tentou esboçar um sorriso de alegria. Talvez até fosse um grande sorriso, já não tinha força para o transmitir por esgar.

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para O.

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