sábado, 21 de março de 2009

nocturno

.
Fazia aquela esquina há três anos.
Melhor estar ali que no Jardim das Glicínias. Ali era mais abrigado. Para não falar na clientela. Era tudo do melhor. Bom, o Hotel era de seis estrelas e como as acompanhantes não chegavam para todos sobrava sempre para ela.
Tinha mesmo sorte em estar ali.
Às vezes o porteiro fazia-lhe sinal para ela desandar, mas depois de lhe ter dado uma de borla começou a fechar os olhos – porco do caraças.
O ar estava abafado. Levantou-se e abriu a janela, sendo de imediato invadida pelo barulho ensurdecedor da tarde na cidade.
Olhou-se ao espelho e tinha mais uma mancha.
Andava desconfiada do que era aquilo, mas tinha vergonha de ir ao médico de família.
Hoje, para poupar água não tomaria banho. Poupava água e gás, estava tudo pela hora da morte.
Agora vivia cansada. Acordava cansada. Adormecia cansada. Trabalhava cansada.

Fez um chá preto e carregou-o de mel, era dos poucos prazeres que tinha hoje em dia. De seguida enrolou um charro e fumou-o.
A cama ia ficar assim. Ainda estava molhada daquela maldita transpiração nocturna.
Pôs creme e base na cara e começou a pintura. Um dia destes tinha de comprar pestanas novas e o batom estava nas últimas. Carregou ainda mais na cor. Gostava de sobressair os lábios carnudos.
Os homens gostavam.


Contou os trocos. Ainda tinha de passar pelo hipermercado para comprar a merda das camisinhas. Alguns faziam-se esquecidos, outros….faziam-se esquisitos. Agora também…..a ela não lhe fazia diferença.
.

Sem comentários: