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Pela comida para os filhos, trabalhava doze horas por dia.
- Ó Beto, sais ao teu pai, ou quê, hã? Qualquer dia vem a bófia e leva-te dentro. Que raio são esses pacotinhos?....Bicarbonato? Mas tu pensas que nasci ontem? Quero isso tudo fora desta casa e ainda esta noite.
Com a discussão o mais novo começou a arfar, era mais uma crise de asma a caminho, enquanto isso o bebé da Rosa acordara. Não bastavam os filhos e agora mais um rebento. Como podia ser avó tão cedo. Bom, acontecera o mesmo com ela. Menos mal que este ainda tinha o leite da mãe, que ultimamente andava a aperaltar-se toda, mas daqui a algum tempo era mais uma despesa. A desgraçada nem sabia quem era o pai.
Já chegara a levar a neta quando ia engomar a roupa da mulher do Sr. Dr.. O que valia é que as outras senhoras levavam-lhe a roupa a casa e era um ver se te avias. Não tinha mãos a medir. Levantava-se às seis e não parava. Tinha concorrido à Câmara para tratar dos jardins, mas aquilo era sete cães a um osso. É que ela não tinha cunhas. Ainda tinha deitado a cantada a uma das senhoras que trabalhava na tesouraria mas ela fez-se de parva. A partir daí ficou a pagar mais do que as outras que era para ela aprender.
Pegou na criança e mudou-lhe a fralda.
Continuou a chorar, tinha era fome. Enquanto a mãe não chegava encheu-lhe a chupeta com açúcar – não sem antes a passar pelo copo, sim, porque se tinha feito isto com os dela e eles não morreram, porque não fazer com a neta, que fazia mal, bah mal a quê?
Ela quando tinha quatros anos já bebia um copo como os adultos, e se lhe pusessem açúcar ainda mais bebia. Era noite santa. Nem ouvia os berros do pai quando chegava a casa bêbado, o que era dia sim, dia sim.
Pelo barulho do motor pensou ser uma das senhoras a levantar a roupa. Espreitou pela janela. Não reconheceu o carro. Preto e reluzente. Quem era demorava a sair. Esperava era que trouxessem o dinheiro, que isto de ter bons carros e não pagar era hábito - que não estava a dar dinheiro a caixa multibanco, diziam. Ah, desculpas.
A conta da luz que este mês era alta, em silêncio aceitou o dinheiro da filha.
Bah, ela também tinha andado na vida e não morrera.
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Pela comida para os filhos, trabalhava doze horas por dia.
- Ó Beto, sais ao teu pai, ou quê, hã? Qualquer dia vem a bófia e leva-te dentro. Que raio são esses pacotinhos?....Bicarbonato? Mas tu pensas que nasci ontem? Quero isso tudo fora desta casa e ainda esta noite.
Com a discussão o mais novo começou a arfar, era mais uma crise de asma a caminho, enquanto isso o bebé da Rosa acordara. Não bastavam os filhos e agora mais um rebento. Como podia ser avó tão cedo. Bom, acontecera o mesmo com ela. Menos mal que este ainda tinha o leite da mãe, que ultimamente andava a aperaltar-se toda, mas daqui a algum tempo era mais uma despesa. A desgraçada nem sabia quem era o pai.
Já chegara a levar a neta quando ia engomar a roupa da mulher do Sr. Dr.. O que valia é que as outras senhoras levavam-lhe a roupa a casa e era um ver se te avias. Não tinha mãos a medir. Levantava-se às seis e não parava. Tinha concorrido à Câmara para tratar dos jardins, mas aquilo era sete cães a um osso. É que ela não tinha cunhas. Ainda tinha deitado a cantada a uma das senhoras que trabalhava na tesouraria mas ela fez-se de parva. A partir daí ficou a pagar mais do que as outras que era para ela aprender.
Pegou na criança e mudou-lhe a fralda.
Continuou a chorar, tinha era fome. Enquanto a mãe não chegava encheu-lhe a chupeta com açúcar – não sem antes a passar pelo copo, sim, porque se tinha feito isto com os dela e eles não morreram, porque não fazer com a neta, que fazia mal, bah mal a quê?
Ela quando tinha quatros anos já bebia um copo como os adultos, e se lhe pusessem açúcar ainda mais bebia. Era noite santa. Nem ouvia os berros do pai quando chegava a casa bêbado, o que era dia sim, dia sim.
Pelo barulho do motor pensou ser uma das senhoras a levantar a roupa. Espreitou pela janela. Não reconheceu o carro. Preto e reluzente. Quem era demorava a sair. Esperava era que trouxessem o dinheiro, que isto de ter bons carros e não pagar era hábito - que não estava a dar dinheiro a caixa multibanco, diziam. Ah, desculpas.
A conta da luz que este mês era alta, em silêncio aceitou o dinheiro da filha.
Bah, ela também tinha andado na vida e não morrera.
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